Às deusas presentearam
os amores.
Calíope sábia musa, diga-me:
Aos poetas cabem apenas as dores?
Aos poetas cabem apenas as dores?
Onde foi parar a
coragem
E a força que minava
feito água a jorrar da fonte
Que mata a sede dos
viajantes.
E feito nascente de rio
Que dá vida a todo ser?
Nunca existiu.
Não passa de mito,
lenda e estórias pra boi dormir.
Ou as mataram enquanto
dormia?
Porque aos poetas cabe
todo sentimento do mundo
E nenhum poder sobre
si?
Que fazer da mente que freneticamente
vagueia
E do coração cheio de
razões e emoções
Estúpidas, cálidas e
sufocantes?
Que fazer deste nó que
adoece a alma e escraviza o corpo
à um estado frágil e
ignorante?
Onde foi parar a
esperança e os sonhos?
Onde foi parar o sopro
de vida
E a essência de si?
E se perdeu no tempo, na
rotina
E se perdeu nas
palavras jorradas, nas palavras caladas
Se perdeu nas emoções
abafadas e escancaradas
E se perdeu no
desamparo e na ausência,
E se perdeu na dúvida e
na pouca coragem
E se perdeu no medo e
nas expectativas
E se perdeu nas
certezas e na espera
E se perdeu na solidão
dos outros e de si
E se perdeu no silêncio
do tempo passado e dos dias sobrevividos.
E o tempo passado
E os dias sobrevividos
te pedem força
Levanta-te, anda!
O tempo passado
E os dias sobrevividos exige
que cresça
Que seja o que for...
mas seja
Tenha, apareça!
O tempo passado
E os dias sobrevividos
te diz
Que você deve ir.
Caliope, sábia musa
Diga-me qual o destino
daqueles que se perderam?
Não há tempo pra refazer
os caminhos
E qualquer caminho não
cabe
Não mais por mim
Nada por mim
No fim, somente à quem
espera retos caminhos
Percorridos por estes
pés .
Calíope, sábia musa
Importam estes pés?
Este corpo e esta alma
já tão danificada e
vazia?
Os passos são sempre
tortos.
Porque são os poetas
imundos insetos
Fruto de uma
metamorfose
abortada pelo tempo
Isso assusta?
Já não cabem mais restos,
nem sobras de qualquer coisa.
O coração transborda
Por si mesmo
Pelos outros.
O coração insiste em
estar sempre pelo avesso
E de ser inteiro.
Mesmo pela gênese mutilada e infértil.
Mesmo pela gênese mutilada e infértil.
Os pés não caminham.
Calíope, sábia musa
Esta alma urge em ser
dona de si
urge em ressucitar!
urge em ressucitar!