01 fevereiro 2012

Oração à Calíope

Às deusas presentearam os amores.
Calíope sábia musa, diga-me:
Aos poetas cabem apenas as dores?

Onde foi parar a coragem
E a força que minava feito água a jorrar da fonte
Que mata a sede dos viajantes.
E feito nascente de rio
Que dá vida a todo ser?

Nunca existiu.
Não passa de mito, lenda e estórias pra boi dormir.
Ou as mataram enquanto dormia?

Porque aos poetas cabe todo sentimento do mundo
E nenhum poder sobre si?

Que fazer da mente que freneticamente vagueia
E do coração cheio de razões e emoções
Estúpidas, cálidas e sufocantes?

Que fazer deste nó que adoece a alma e escraviza o corpo
à um estado frágil e ignorante?

Onde foi parar a esperança e os sonhos?
Onde foi parar o sopro de vida
E a essência de si?

E se perdeu no tempo, na rotina
E se perdeu nas palavras jorradas, nas palavras caladas
Se perdeu nas emoções abafadas e escancaradas
E se perdeu no desamparo e na ausência,
E se perdeu na dúvida e na pouca coragem
E se perdeu no medo e nas expectativas
E se perdeu nas certezas e na espera
E se perdeu na solidão dos outros e de si
E se perdeu no silêncio do tempo passado e dos dias sobrevividos.

E o tempo passado
E os dias sobrevividos te pedem força
Levanta-te, anda!

O tempo passado
E os dias sobrevividos exige que cresça
Que seja o que for... mas seja
Tenha, apareça!

O tempo passado
E os dias sobrevividos te diz
Que você deve ir.

Caliope, sábia musa
Diga-me qual o destino daqueles que se perderam?
Não há tempo pra refazer os caminhos
E qualquer caminho não cabe
Não mais por mim
Nada por mim
No fim, somente à quem espera retos caminhos
Percorridos por estes pés .

Calíope, sábia musa
Importam estes pés?
Este corpo e esta alma
já tão danificada e vazia?

Os passos são sempre tortos.
Porque são os poetas imundos insetos
Fruto de uma metamorfose
abortada  pelo tempo
Isso assusta?

Já não cabem mais restos, nem sobras de qualquer coisa.
O coração transborda
Por si mesmo
Pelos outros.
O coração insiste em estar sempre pelo avesso
E de ser inteiro.
Mesmo pela gênese mutilada  e infértil.
Os pés não caminham.

Calíope, sábia musa
Esta alma urge em ser dona de si
urge em ressucitar!


Nenhum comentário: