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Olhou-se
no espelho. Os grandes olhos eram toda si. Eram só eles o que refletiam naquele
pequeno objeto. Mas bastava. Bem verdade que não se reconhecia. Que vontade de
estar longe dali. Daquele quarto. Daquela casa. Daquela cidade. Seu corpo pedia
a solidão. Sua alma sempre esteve só. Os
olhos grandes ardiam, como que furiosos, diante às lágrimas que insistiam em
saltar enquanto tentava as engolir.
- O
que você quer? Perguntava insistentemente.
- O
que você quer? Repetia.
Não
conseguia resposta. Muito menos consolo. O peito abafava qualquer bom
sentimento. O que era isso? Sentia–se fria. O corpo frio e pálido. A alma
gélida. O inverno ajudava. Não tinha por si qualquer bom sentimento. Era o
mínimo que se esperava. Mas nem isso. Olhava-se com uma vontade de adeus àquela
figura que inventaram. Ela era uma mentira. Sinto muito, nada
me comove mais tanto, agora. Digo agora, este minuto que conta o ponteiro do
relógio.
Secou
as lágrimas grossas, acumuladas e desaguadas naquele silêncio íntimo. De nada
valiam. No ambiente tocava a Saucerful of Secrets de Pink Floyd. Um disco de
segredos. Sugestivo não? Talvez, pra quem tivesse algo pra contar. Ela era oca.
Ou louca? Porque não? Um tanto mais de graça desperta a loucura. E não
interessa explicar. Entenda por si. Já reparou como as pessoas explicam demais,
falam demais, discutem demais, justificam demais. Uma eterna mania de entender
de tudo. Cada um com sua verdade, sua ou não, mas com a verdade. Tudo isso a
entendiava. As pessoas a entendiavam. Ela sorria com o canto dos
lábios ao pensar nisso. Um sorriso quase sarcástico. Quase, mas não
chegava a o ser. Seu sorriso estava para além disso.
Seu estado de contemplação diante da vida estava
comprometido. Houve um tempo, não tão longínquo, isso era o que mais te dava
prazer. Logo ela. Mas o que mesmo havia
para contemplar? Sentia-se velha. Fechou os olhos. A música te palpitava
memórias do que nunca existiu. Pouco importa. Estava cansada.