23 agosto 2012

Conto frio número 01 - A SAUCERFUL OF SECRETS

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Olhou-se no espelho. Os grandes olhos eram toda si. Eram só eles o que refletiam naquele pequeno objeto. Mas bastava. Bem verdade que não se reconhecia. Que vontade de estar longe dali. Daquele quarto. Daquela casa. Daquela cidade. Seu corpo pedia a solidão.  Sua alma sempre esteve só. Os olhos grandes ardiam, como que furiosos, diante às lágrimas que insistiam em saltar enquanto tentava as engolir.
- O que você quer? Perguntava insistentemente.
- O que você quer? Repetia.
Não conseguia resposta. Muito menos consolo. O peito abafava qualquer bom sentimento. O que era isso? Sentia–se fria. O corpo frio e pálido. A alma gélida. O inverno ajudava. Não tinha por si qualquer bom sentimento. Era o mínimo que se esperava. Mas nem isso. Olhava-se com uma vontade de adeus àquela figura que inventaram. Ela era uma mentira. Sinto muito, nada me comove mais tanto, agora. Digo agora, este minuto que conta o ponteiro do relógio.
Secou as lágrimas grossas, acumuladas e desaguadas naquele silêncio íntimo. De nada valiam. No ambiente tocava a Saucerful of Secrets de Pink Floyd. Um disco de segredos. Sugestivo não? Talvez, pra quem tivesse algo pra contar. Ela era oca. Ou louca? Porque não? Um tanto mais de graça desperta a loucura. E não interessa explicar. Entenda por si. Já reparou como as pessoas explicam demais, falam demais, discutem demais, justificam demais. Uma eterna mania de entender de tudo. Cada um com sua verdade, sua ou não, mas com a verdade. Tudo isso a entendiava. As pessoas a entendiavam. Ela sorria com o canto dos lábios ao pensar nisso. Um sorriso quase sarcástico. Quase, mas não chegava a o ser. Seu sorriso estava para além disso.
Seu estado de contemplação diante da vida estava comprometido. Houve um tempo, não tão longínquo, isso era o que mais te dava prazer. Logo ela. Mas o que mesmo havia para contemplar? Sentia-se velha. Fechou os olhos. A música te palpitava memórias do que nunca existiu. Pouco importa. Estava cansada. 

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