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Maria a preservar o amor, por Elen Alcântara |
Na fila do pão
Moedas à mão, contadas Mais vale o pão ou minha mão? Talvez mais essas moedas. Não há amor por aqui. Poderia haver. O passo apressado diário é a companhia Nesse ir e vir sem garantias Talvez eu vá. Talvez não volte. Fecham-se as portas e janelas Do mesmo modo, o coração. Não há espera. O amor não passa por aqui. Poderia passar. Subiu a luz; o barranco desabou Nem dinheiro, nem dignidade sobram O choro quando vem
desagua num resto de fé. - O que você tem? Perguntam. - Coragem - O que você tem? Insistem. - Verdade - O que você tem? Perguntam e não olham, perguntam e não sentem. - Não tem - é o que dizem. O ser monetizado! Agora entendi. Não vale amor por aqui. Poderia valer. Segue, curte, troca likes Papo nas nuvens, juízo no pé Nem prosa, nem verso Uma Vênus sequer. Fingir é a arte Tanto faz, faz parte Não se sente amor por aqui. Poderia sentir. De todos os lados, apontadas armas E Almas roubadas de Vivos-mortos sem saber existir.
Mentes aprisionadas, Que livres, mentem E violam corpos Fodem, assim, vulgarmente. Não se faz amor por aqui. Poderia fazer. Da fila do pão A esperança sussurra: -Paciência. Ainda há amor por aqui. Então sorrio e sossego. Mais vale, minha mão.
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